ASSÉDIO SEXUAL NO TRABALHO

Ela sempre se achou bonita, mas nunca pensou que a beleza fosse um escudo para fazer fluir suas paixões e com isso alcançar realizações profissionais. Talvez por isso que nalgum momento tenha padronizado que o assédio poderia ser mais frequente em meninas com um corpo esculpido, nádegas avantajadas e com 1.70 metros de altura. Meninas como ela, fora deste padrão, e com traços físicos de adolescentes, possivelmente tendem a ser invisíveis no meio profissional.

Com isso ela não quer afirmar que não seja atraente, claro que é. É uma escorpiana nata, a astrologia a descreve como magnética, com emoções intensas e misteriosa. Essas são narrações abstratas; fisicamente o que é visível nela é sua boca tipicamente africana que sempre a estigmatizou por ter sido olhada por terceiros como um atentado num corpo de uma criança.

No dia que o assédio bateu a porta ela desconstruiu a vítima do corpo esculpido que ela não era, e mostrou que também, podia ser uma potencial cliente. Nesta relação de cliente e vendedor, ela não era nem uma nem outra coisa, talvez fosse apenas uma funcionária inexperiente numa empresa promissora.

Quando o assédio acontece, pode, alguma vez, ser confundido com uma paixão, que geralmente tende a ser possessiva. Como o apaixonado assediador que pode ser um colega ou superior hierárquico gere a possessividade?   Caro leitor, nem todo assediador no meio profissional faz promessas de ascensão na carreira, em outros momentos se disfarça por detrás de palavras poéticas e elogios em locais inapropriados.

Mas como identificar o assediador ou o assédio? Welington Almeida Pinto define o assédio sexual num ato de insinuação sexual que atinge o bem-estar de uma mulher ou de um homem, ou que constitui um risco para sua permanência no emprego. Ele pode assumir a forma de insinuações persistentes tanto verbais, quanto gestuais, um gesto, um olhar, palavras sugestivas repetidas e não desejadas ou um contato físico, considerado repreensível, desagradável ou ofensivo e que nos incomoda em nosso trabalho.

A partir das palavras de Pinto, ela percebeu que o incómodo, os gestos e as sugestões que recebia eram uma representação do assédio. Esta confirmação deixou-a sem reação. Não sabia o que fazer, como agir, e que postura tomaria quando o colega, por sinal seu superior hierárquico, a convidasse à sua sala para uma conversa que a princípio, deveria ser profissional, mas sempre acabava se transformando em elogios e insinuações desnecessárias. 

Na dúvida, entre denunciar, encarar e continuar naquela empresa, ela preferiu se demitir. Preferiu matar a paixão pelo seu trabalho inexperiente, inventando outras paixões. Ela poderia ser a vítima, mas escolheu naquele momento não se vitimizar.

Ela preferiu se responsabilizar pela sua vida, não queria buscar culpados, mas sim encontrar a solução para o seu problema. Ela sabe que sua atitude pode ter sido egoísta, porque não resolveu o problema do assédio naquela empresa, e talvez outros continuem a sofrer com isto, no entanto, pensou nas consequências que viriam já que estava no início da sua carreira.

A lei e a sociedade geralmente não protegem a mulher, mas sim a condenam por ser mulher, e quem acreditaria numa jovem que nem se quer tem o protótipo de mulher curvilínea?  Nesta tentativa de buscar soluções próprias e sustentáveis, Rupi Kaur, através do livro “Outros Jeitos de Usar a Boca” a consolou com seguinte poema:

Sua arte não é a quantidade de pessoas

Que gostam do seu trabalho

Sua arte é o que seu coração acha do seu trabalho

O que sua alma acha do seu trabalho

É a honestidade

Que você tem consigo

E você nunca deve trocar honestidade

Por identificação.

Assediaram sua paixão pelo trabalho, mas o pior assédio que poderia ter cometido seria cambiar a sua alma por um trabalho que seu coração e consciência não aceitariam como honesto.

Se demitiu alegando uma paixão que nem sequer existia, mas quanto mais o tempo passa, descobre que quando uma paixão termina duas coisas podem acontecer: A paixão se transforma em amor ou  se descontinua e procura outra coisa que possa ativar, outra vez o desejo de experienciar o êxtase do orgasmo que só acontece quando se faz o que se gosta.

Ela apenas demitiu-se de uma paixão pelo trabalho, porém outras mulheres e homens a contam que o assédio os tirou seu sustento, a autoestima e por muitas vezes se transformou em violência sexual.

Ela me pergunta - como podemos acabar com o assédio sexual que se esconde por detrás de paixões e elogios no ambiente empresarial e institucional? - Ainda não consegui a responder porque também busco respostas sobre este assunto.

 

Links dos livros citados

https://static.tumblr.com/jh0avtj/gFCowuyvp/outros_jeitos_de_usar_a_boca_-_rupi_kaur.pdf

https://drive.google.com/viewerng/viewer?url=http://ler-agora.jegueajato.com/Pinto,+Welington+Almeida/ASSEDIO+SEXUAL+NO+AMBIENTE+DE+TRABALHO+-+Legislacao+Brasileira+Livro+2/ASSEDIO+SEXUAL+NO+AMBIENTE+DE+TRABALHO+-+Legislacao+Brasileira+Livro+2+-+Pinto+Welington+Almeida?chave%3D1677cfea7cb1b4e721f78316a481fd9c&dsl=1&ext=.pdf

Comentários

  1. Este é de facto um assunto que abraça à todos (homem e mulher), porém com maior pendor para as mulheres (não tenho estatísticas oficiais). Não teria em si soluções padronizadas senão tratar-se cada caso consoante suas características e possibilidades de resolução e, pela sua sensibilidade, precisa de muita frieza, mas também muita reflexão, no entanto, quanto cedo for resolvido melhor será (cortar o mal pela raiz).
    Arrastar a solução para o fórum judicial, só em caso de persistência, reunidas as devidas provas para que o mais fraco não veja o caso a voltar-se contra si, o que é deveras frequente (os superiores hierárquicos saem ilesos)...
    Abandonar o emprego não é solução, pois claramente esta questão está presente em todos os sectores laborais.

    A solução efectiva desses casos passaria pela retrotransformação humana direcção ao resgate dos fundamentais valores da humanidade assentes nos princípios éticos e morais...

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  2. Caro leitor obrigada por deixar aqui um camonho para a resolução deste problema social, de facto o assédio não escolhe. Agora nos resta construir o discernimento para identificar os casos que temdem a ser diferentes, e quanto mais cedo resolver-se o problema. É verdade a demissão não é a solução, pois nem resolve o problema. Vamos continuar essa viagem reflexiva sobre questões da humanidade

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