FORMAÇÃO SUPERIOR NÃO DÁ EMPREGO E DINHEIRO
Na semana passada estava a ler um relatório do Instituto Nacional
de Estatística sobre a força de trabalho em Moçambique. Neste documento, é
feita uma descrição das características demográficas e sociais dos empregados e
desempregados. Ao longo da leitura, deparei-me com os seguintes dados:
A maior taxa de empregados em Moçambique é formada por camponeses que,
na sua maioria, vivem na zona rural; estes vivem na base da agricultura. E
olhando para a variável sexo, percebe-se que, destes camponeses, 82% são
mulheres e 58.2% são homens.
No que respeita à taxa de desemprego e olhando para o nível de escolaridade,
percebe-se que em Moçambique, quanto maior o nível de escolaridade maior é a
probabilidade de ser desempregado. E esta tendência é observada em ambos os
sexos, mas tem maior impacto nas mulheres (21,8%) em relação aos homens (19,5%).
Assustei-me com estes dados, mas me dei conta de que efetivamente
representam a realidade do país. Por coincidência, alguns dias depois de ter
estado a trabalhar com este relatório, um ex-colega partilhou comigo a
indignação de que as empresas, ao buscarem colaboradores através de vagas de
emprego, colocam como um dos requisitos que o candidato tenha no mínimo 3 a 5
anos de experiência profissional e no, seu caso, tinha praticamente nenhuma
experiência por ser um recém-formado.
Depois de ver a indignação do jovem, pensei no meu relatório do
INE, e achei que talvez exista uma relação com o facto de a maior taxa de
emprego estar concentrada na prática da agricultura de subsistência e que a
baixa escolaridade dos camponeses influencie de alguma forma para que esta taxa
seja maior neste sector que, por sinal, não dá outra alternativa aos camponeses para além de aceitar um baixo salário
pelo seu trabalho. Neste caso, a baixa escolaridade dificulta o conhecimento de
direitos e o acesso a informação necessária para a reivindicação de melhores
condições de trabalho.
Ademais, dei-me conta de que, se a nossa população é jovem, então
isso significa que o menor número que tem possibilidade de frequentar o ensino
superior não chegará a preencher os 3 a 5 anos de experiência profissional
exigido pelas empresas. Deste pequeno número de pessoas que possuem nível
superior, talvez, 0,1% preencha este requisito. Logo, estamos a acumular no país
uma massa de diplomas que não nos dão a possibilidade de termos acesso ao
emprego.
Mas quem disse que a formação superior dá emprego? Bem, todos nós
vivemos nesta ilusão, até que chegue o momento de corrermos atrás do emprego, e
é aí onde começa a nossa frustração, porque finalmente descobrimos que o nosso
diploma e as teorias estudadas na escola não são suficientes para que sejamos
contratados.
Na minha visão, os 3 a 5 anos de experiência exigidos por muitas
empresas, aumentam a exclusão social, ou é um método usado pelas empresas para
elevar a exclusão e a pobreza. As empresas querem produzir e gerar lucro,
poucas estão preocupadas em ensinar o recém-formado o saber fazer.
E se este recém-formado não buscou ao longo da formação ser
autodidata e desenvolver outras competências além das aprendidas na sala de
aula, pode ficar anos no banco de espera de emprego, gerindo sua frustração.
Então caros leitores, conforme mostra o relatório do INE, não será
o nosso nível académico que possibilitará o acesso a um bom emprego. No nosso pais é assim: quanto menor a
escolaridade, maior é a possibilidade de ser empregado, no entanto, este
emprego é na sua maioria informal, e não garante a segurança social. Logo, o
próprio país pouco consegue gerar receitas através dos impostos que viriam dos
ditos empreendedores e negociantes.
Por outro lado, quanto maior a escolaridade, maior o desemprego;
nesta premissa, assumimos que as empresas estão a dizer que não possuem salário
para pagar pessoas formadas; então, seu nível superior pouco vale se você está
a se formar para ter um bom emprego e não para adquirir conhecimento.
Dito isto, acho que é tempo de começarmos a tomar a educação
superior no nosso pais, não somente como um mecanismo de acesso a um bom
emprego, mas também como um motor para elevar a consciência social, a produção e a cultura científica,
que também está em crise porque pouco se investe na área. As universidades, têm
na sua maioria professores e não investigadores e cientistas. A maioria delas está
preocupada em angariar dinheiro. Esquecemos
que a investigação e a inovação também são capazes de gerar emprego e dinheiro.
Ademais, acho que o contexto e as temáticas que estudamos nas
universidade e instituições superiores, não estão a responder às necessidades
do mercado. Fora da universidade as exigências têm sido outras. Talvez seja
necessário que cada vez mais, as empresas e as universidades estejam em sincronia
sobre o que elas procuram e o que as universidades precisam acrescentar em seus
currículos.
Para terminar, recomendaria a você caro leitor, que é estudante ou
mesmo trabalhador, que não espere terminar o curso para aprender coisas novas ou
ser um autodidata; quebre as fronteiras e utilize a energia da juventude e a
tecnologia para adquirir novas competências e conhecimentos. Talvez, na hora de
procurar um emprego, a sua autoformação, curiosidade em aprender e suas
habilidades tecnológicas (adquiridas através de leituras, Youtube, e vivências
práticas) contem mais do que o seu diploma.
Ola meninas. Boa reflexão Delfina. Eu observei esse facto. Infelizmente a mentalidade que nos é incutida na nossa educação(formal e informal) é que devemos estudar para conseguir emprego e dinheiro e não conhecimento para produzirmos auto-emprego e auto-independência financeira.
ResponderExcluirFora o cenário é outro as pessoas produzem auto-emprego com as suas formações não importa se é muito ou pouco dinheiro, mas é seu trabalho. Você se forma em veterinária logo abre uma pequena clínica veterinária no seu quintal, etc,etc.podemos observar isso nos programs que dão nos canais internacionais. O país faz a parte deles garante uma educação com qualidade, o resto é com o indivíduo.
Moçambicano tem vergonha do auto-emprego, até diz de boca cheia não estudei para vender ou fazer negócio...resultado acúmulo de anos de frustação.
Qualquer estrangeiro(chinese, burundeses, congolês, etc) faz a vida em Moçambique. Chega abre uma lojinha de venda de produtos e já está a sobreviver, e quem é maior consumidor o moçambicano.
Infelizmente o nosso sistema de educação em vez desenvolver mentes independentes torna mente dependentes, limitadas e incapazes de se sentirem seguras para sobreviverem por si.
Muito bom... Gostei imenso dessa partilha, na verdade isso só veio sublinhar o que a maioria dos estudantes têm em mente no que diz respeito: Formação= Emprego. Muito antes de ingressar na universidade eu já ouvia que realmente o nosso país "descarta" os Licenciados, Mestres em diversas áreas por assumirem que não tem recursos financeiros que equivalem aos níveis dos mesmos. Daí me veio a seguinte questão em mente: Porquê temos tantas universidades, institutos superiores no nosso país, instituições essas que procuram formar pessoas que às empresas não empregam os formandos no futuro???
ResponderExcluirEm particular conheço muita gente que tem diplomas em suas casas e trabalham nas áreas na qual é muito diferente da qual se formaram. E mais uma vez essa Partilha trás-nos às provas do que tem acontecido no nosso país.
É uma questão cultural, os nossos pais nos educaram dessa maneira. A maior parte de nós crescemos com está ideia até chegado ao dia que se depara com as experiências que a realidade oferece e percebe se que tudo aquilo que foi dito em relação ao ensino superior pode não ser verdade...
ResponderExcluirSaudações prof
ResponderExcluirDe facto é a realidade do nosso país. Por isso que a formação não garante emprego. Porém, podemos obter conhecimento e através do conhecimento apreendido podemos aplicar de forma a satisfazer as nossas necessidades. Em várias áreas.
De facto é a realidade do nosso país. Por isso que a formação não garante emprego. Porém, podemos obter conhecimento e através do conhecimento apreendido podemos aplicar de forma a satisfazer as nossas necessidades. Em várias áreas
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