A GERAÇÃO DOS OFENDIDOS
Depois de tanto tempo sem escrever para o blog, me veio a vontade de partilhar
um pouco das experiências que tenho tido no primeiro mundo, que as vezes, me fazem
conhecer as outras facetas históricas do meu país Moçambique.
Caros leitores, hoje tive a oportunidade de assistir a uma aula sobre
a história do cinema africano e moçambicano à convite de um professor especialista
nesta matéria, que foi invitado por uma professora da Universidade de Alcalá para
dar uma aula sobre a história do cinema africano na sua disciplina de antropologia
audiovisual.
A aula foi alucinante para mim, não somente pela matéria que estava
a ser lecionada, mas também pelo entusiamo, paixão e por perceber que os olhos do
professor cintilavam ao explicar e ensinar sobre como começou e evoluiu o cinema
no continente africano.
Ao longo da aula, o professor focou-se na história do cinema moçambicano,
o que me deu bastante alegria por eu ser moçambicana e poder ter a oportunidade
de aprender sobre a história do cinema do meu país.
Na perspectiva do professor, os filmes moçambicanos ou sobre
Moçambique, em especial os realizados por Lícilio Azevedo (um brasileiro
radicado em Moçambique) apresentam uma narrativa que, ao partir de factos reais
da sociedade e da cultura moçambicana, conseguem se construir desde uma perspetiva
documental e ficcional já mais experimentada na história do cinema.
Talvez não vos interesse saber como foi a minha experiência nesta
aula, todavia achei interessante começar por trazer este facto para justificar porque
intitulei este artigo de “a geração dos ofendidos”.
Depois do professor ter dado a aula, baseada nas suas experiências
profissionais e académicas sobre o cinema africano, e ter nos brindado por algumas
passagens de filmes africanos para explicar os planos e as narrativas usadas,
uma estudante declarou, com cara de quem estava decepcionada, que as passagens expostas
apresentavam imagens muitos fortes e agressivas.
Se esta declaração tivesse sido acompanhada apenas por um simples posicionamento
de uma estudante do curso de produção audiovisual, talvez poderia ou poderíamos
ter considerado a declaração como um simples ponto de vista dentro de um
ambiente educacional que permite que os alunos façam observações e analisem os assuntos
sociais sobre diferentes perspectivas. Afinal, a universidade não está para doutrinar
aos estudantes, mas permitir que eles se construam como seres pensantes e críticos.
O drama feito pela estudante sobre a aula me surpreendeu, e a reação
da professora mais ainda, uma vez que ela começou a se questionar sobre como
deveria dar aulas a esta geração que se ofende com tudo, que quer se formar na
universidade, porém não se permite sair da caixa e ver o mundo tal como ele é.
Por outra, será que os conteúdos para as aulas desta geração devem
ser baseados naquilo que eles acreditam como sendo correcto e não ofensivo para
o seu carácter sensível, frágil, colorido e Zen?
Bem..., a geração dos ofendidos que adora ver filmes da Netflix de
terror e sangrentos, viciada em videogames violentos e que assiste pornografia em
ângulos diversificados, pretende se formar para construir narrativas Zen, que retratam
aquilo que não machuca as suas personalidades sensíveis.
Caros leitores, hoje me dei conta de que a humanidade evoluiu, e nesta nova fase da humanidade é preciso censurar a cultura, arte e a história para que não corramos o risco de ferir a geração “Danone” que ama os animais, mas não suporta a si mesma.
Leitores, vou ali fazer um “Yoga”, amar as árvores e aprender a falar
com a água.
Até já.
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