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Mostrando postagens de junho, 2020

O CABELO CRESPO TEM HISTÓRIA

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Me dei conta de que o cabelo tem história, sentimento, raiz, personalidade e referência. Não estou a tentar romantizar o cabelo crespo ou do negro, mas apenas busco mostrar que, talvez se tivessem nos ensinado, ou se tivessemos aprendido desde cedo que o nosso cabelo é tal como o nosso corpo (somente passa a ser bonito quando o aceitamos como é e que devemos cuidá-lo para que vivamos saudáveis) não haveria necessidade de nos frustrarmos ao tentar aproximar o cabelo e o corpo a alguma coisa que nunca chegará a ser. Algumas ou muitas mulheres têm seu cabelo como um símbolo de beleza – e eu faço parte desta lista; talvez por isso na adolescência (e por ver o meu círculo feminino ser preenchido de mulheres com cabelo desfrisado) tenha decidido também engrenar nesta moda para me sentir bonita e dentro deste padrão nacional e internacional que vivi durante 8 anos. Em 2014 fiz uma viagem, e foi neste período de distanciamento do meu habitat que senti que o meu cabelo desfrisado não conta...

A LUTA DE CLASSES ESTÁ TAMBÉM DENTRO DO FEMINISMO

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O título escolhido para o texto de hoje é controverso, já que ao longo dos textos que fui publicando, tenho declarado o meu apoio ao movimento feminista. No entanto, é preciso esclarecer algumas coisas dentro e fora deste movimento. Em todos textos que escrevo, deixo recomendações de leituras que vale a pena fazer e este não será alheio a este ritual (se quiser aprender e compreender o feminismo, baixe o livro no link que deixo no fim deste texto). A crítica e a análise devem estar presentes em todos movimentos, teorias e políticas que, enquanto seres sociais e humanos, nos propusermos a seguir. Por exemplo: os religiosos precisam aprender a criticar e a analisar a bíblia (nem tudo que está na escritura sagrada prega o amor e a sabedoria). Na mesma medida que a bíblia nos ensina que devemos nos amar, nalguns momentos, ela também mostra-se misógina, machista esclavagista e racista. Neste caso, saber criticar, ler e interpretar a bíblia, sem esperar que seu líder espiritual faça is...

DIÁLOGO POÉTICO ENTRE CITAÇÕES E EMOÇÕES

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  Ele veio Eu esquivei Ele pediu Eu neguei Ele insistiu Eu aceitei Ele consumiu Eu gostei Ele sumiu Eu enlouqueci ( Alice Ambrucer ). Alice permita-me tratar seu poema de forma que homens e mulheres se sintam representados nesta sopa de palavras ditas a partir de emoções intensas. A partir deste poema vejo uma pessoa que após viver uma experiência e ter se “viciado” ou melhor gostado, se vê de repente ou a partir de sinais de que deverá seguir a viagem sozinha, e esta nova viagem solitária não tem direito ao goodbye , au revoir , na famba ou hasta la vista . Mas quem mentiu de que relacionamentos devem ser para a vida toda? Se até a morte pode separar? Alice, se mesmo um adeus enlouquece, imagina não o ter? Mas ainda assim, acredito que enlouquecer tendo tido uma despedida explicativa seria mais aceitável, porque quando as recordações vierem, surgirão na mesma proporção os motivos do adeus. E assim, os passos após o luto tenderão a ser firmes, sem me...

QUEM DISSE QUE A PRINCESA TEM QUE SER APENAS A SOFIA E TER OLHOS AZUIS?

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Há alguns dias, um amigo enviou-me um vídeo sobre racismo, em que crianças negras diziam não gostar de ser negras e que preferiam ter nascido com pele branca. Discutimos sobre o assunto sem chegar a uma solução ou formas de colmatar o desgosto que muito negro tem de si. A partir da discussão, comecei a pensar em escrever sobre o assunto, olhando o contexto moçambicano. Me surgiram inquietações que acredito que tenham a ver com o desamor infantil sobre o ser negro, e no nosso contexto é mais visível quando chegamos a adolescência. Por que expomos nossas crianças somente a princesas de TV que sejam Sofia ou Elisa com cabelo liso e olhos azuis? Por que consideramos como castelo a casa da princesa Sofia, e não de igual modo a palhota de minha vovó? Quero acreditar que muitos adultos que viram tal vídeo ficaram revoltados e assustados, uma vez que aquelas crianças mostravam não ter uma identidade negra e, consequentemente, tinham falta de amor próprio. No entanto, este é o grande prob...

CRIANÇAS QUE LÊEM

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Há muito tempo quero escrever sobre a importância de se estimular o gosto pela leitura nas crianças, pois considero preponderante no processo de construção de uma sociedade consciente de seus direitos, da importância da cidadania e do acesso e interpretação da informação. Dentro da Biblioteconomia, a linha de pesquisa sobre a formação de leitores e o incentivo à leitura são as áreas que mais me cativam. E, sendo bibliotecária, me dou a ousadia e autoridade de abordar este assunto neste espaço que criei com intuito de dar pistas de que a leitura e os livros, também ajudam na compressão de problemas pessoais e sociais, para além de que abre espaço para que cada um interprete todas estas questões a partir de várias visões e cada um busque soluções próprias.   Muitos de nós da geração 1980 e 1990, não tivemos a possibilidade e estímulo de nossos pais, familiares e da comunidade para que cultivássemos o gosto pela leitura ou pela arte. A história do nosso país mostra alguns motivos ...

A DEUSA QUE ESCREVE CARTAS DE AMOR PARA O MARTE E VÉNUS

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  Todos nós, homens e mulheres declaramos instintivamente que não compreendemos o mundo um do outro. Fazemos uma viagem frustrada para tentar perceber nossos mundos paralelos que na mesma proporção são tão iguais já que todos buscamos a mesma seiva que é a felicidade. John Gray afirma que sem a consciência de que deveriam ser diferentes, homens e mulheres estão em disputa uns com os outros. Nós geralmente ficamos nervosos ou frustrados com o sexo oposto porque esquecemos dessa verdade importante. Esperamos que o sexo oposto se pareça mais connosco. Desejamos que façam o que nós queremos e sintam como nós sentimos . Vale ressaltar que tais diferenças que o autor se refere não são de ordem política, social e económica que a principio agitam os movimentos feministas, pois acreditamos que se nessas esferas houvesse igualdade de oportunidades, homens e mulheres teriam a possibilidade trabalhar e se mover com um pouco mais de justiça. As diferenças que o autor reporta são de caracter b...

ASSÉDIO SEXUAL NO TRABALHO

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Ela sempre se achou bonita, mas nunca pensou que a beleza fosse um escudo para fazer fluir suas paixões e com isso alcançar realizações profissionais. Talvez por isso que nalgum momento tenha padronizado que o assédio poderia ser mais frequente em meninas com um corpo esculpido, nádegas avantajadas e com 1.70 metros de altura. Meninas como ela, fora deste padrão, e com traços físicos de adolescentes, possivelmente tendem a ser invisíveis no meio profissional. Com isso ela não quer afirmar que não seja atraente, claro que é. É uma escorpiana nata, a astrologia a descreve como magnética, com emoções intensas e misteriosa. Essas são narrações abstratas; fisicamente o que é visível nela é sua boca tipicamente africana que sempre a estigmatizou por ter sido olhada por terceiros como um atentado num corpo de uma criança. No dia que o assédio bateu a porta ela desconstruiu a vítima do corpo esculpido que ela não era, e mostrou que também, podia ser uma potencial cliente. Nesta relação de ...

SERÁ QUE SOMOS PESSOAS LÍQUIDAS…?

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Será que lhe sangravam os ferimentos dos outros? Não teria ele ainda encontrado a cura, Mbaila? Talvez aquela escalada fosse para encontrar A morte daquilo que lhe matava todos os dias, Aquele veneno que não poderíamos escolher, Que não suportaríamos engolir. Será que lhe atribuíram as culpas dos outros? Não teria ele ainda se desfeito das dores, Mbaila? Sem aviso, chegaram-me imagens daquela torre… Aquela torre não Eiffel… A tensão era alta, Era de alta tensão . (Oshorola, https://bit.ly/3flc9ut ) Querida Oshorola, a tua prosa chegou num momento que estava a apreciar status nas redes sociais, lia comentários, sugestões e análises, mas, eu ainda pergunto - será que o jovem que subiu a torre elétrica não tentava nos mostrar que a sua cidade interna já estava apagada a muito tempo? Eu vi comentários que sugeriam métodos mais simples para se chegar à cura; alguém escreveu: “Por que ele não colocou um garfo na tomada elétrica?” Fizeram notas e perguntas capitalist...

E SE FÔSSEMOS UNIDOS OU NOS CURÁSSEMOS....?

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Cada tema ou assunto que me proponho a refletir é uma viagem a um mundo que pouco conheço, no entanto, convivo e vivo nele direta ou indiretamente; a ideia de refletir a partir de textos traz em mim a possibilidade de ver outras realidades e abordagens sobre o que preciso construir e desconstruir em mim, para garantir uma vivência humanizada. Não tenho respostas, no entanto, abro em mim a possibilidade de olhar de forma distante e imaginária as questões da humanidade que têm dificultado nossa vivência. A reflexão de hoje será composta na sua maioria de questionamentos e histórias conectadas; vejo que o assunto em causa foi abordado, ou é abordado indiretamente nas leituras recomendadas nos textos publicados anteriormente. Vamos refletir sobre nossas relações familiares a partir de nossas feridas rejeitadas ou não assumidas. Mulheres e Homens, vocês já se deram conta de que ao longo da vida desempenhamos papeis de filhos, mães, pais, tias, tios, cunhadas, cunhados, noras, genros, so...