MEU PAI NÃO FOI MEU HERÓI, MAS ME ENSINOU MUITO SOBRE A VIDA
Desde criança sempre vi meus amigos tendo o pai como um herói. Era incrível
ver como eles confiavam na imagem paterna. Um dos meus amiguinhos me falou numa
dessas conversas de crianças que quando crescesse queria ser como o pai.
Quando o assunto era falar de pai, sempre preferi me manter calada,
porque não tinha muito que contar sobre o assunto, e isto não é porque o meu
era falecido, ou não morasse comigo, mas porque nunca, talvez, quis ser como
ele. O meu era um tipo caminhante, não parava, logo, não chegava a conhece-lo
para poder dizer o quanto eu queria ser como ele.
Numa dessas conversas sobre imagens paternas vi minha colega se emocionar
e chorar ao falar como seu pai era inspirador, bom marido, e que gostaria que
seu futuro marido fosse como ele. Ela construía o futuro marido à imagem do pai.
Eu também me emocionei e chorei, mas não porque queria ter tido um pai como o
dela, ou ter um marido como o pai dela, mas porque histórias bonitas e tristes
tem a capacidade de mexer com minha emoção.
Talvez me pergunte, você ama seu pai? Algum tempo atrás eu não
responderia, gaguejaria ou fingiria que não ouvi, porém hoje sou capaz de dizer:
sempre o amei, mas em alguma fase da minha vida não soube administrar o
amor que eu sentia por ele. Se me perguntar se ele me ama? Tempos atrás eu
responderia que não, mas hoje posso dizer, bem, ele me ama de um jeito
peculiar, que só ele sabe.
O meu pai não foi meu herói, mas me ensinou que eu não deveria
esperar sua herança porque ele é pobre, a única coisa que eu poderia tirar dele
é a possibilidade de ir à escola. Poder estudar
sempre foi uma possibilidade, porque a escolha deveria ser mais minha do que
dele. Preferi transformar a possibilidade em certeza.
Meu pai me ensinou a não tomar relacionamentos afetivos como um
sonho, ele não chegou a declarar que deveria ser assim, mas sua forma de ser e
estar, fizeram-me tomar relacionamentos como experiências que podem ser prazerosas
ou de desgosto. Por isso não sonho com um vestido branco, a minha busca se
resume em felicidade singular, a dois ou plural, amor e paixões.
Meu pai me ensinou sobre lutar, conseguir, celebrar, activou em mim
valores e princípios, gostaria de dizer que foi pelo exemplo. Para ele a frase “faça
o que digo e não o que faço” foi sempre um lema de vida. Eu aprendi a fazer o que
ele dizia, o que eu interpretava do mundo e o que eu gostaria de ser através do
exemplo para meus filhos, amigos e companheiros.
A tentativa de construir essas lições que meu pai me ensinou levou
e continua a levar seu tempo. Creio que estou finalmente a perceber sobre a psicoterapia
sistemática Bert Hellinger. Em seu livro sobre“ordens do amor”. Helinger ensina que
“uma pessoa está em paz quando todas as pessoas que pertencem à sua família
tem lugar no seu coração”.
Outra leitura que me fez aceitar as lições ensinadas pelo meu pai
encontrei-as no livro de Fiódor
Dostoiévski intitulado irmãos Karamazov. A tentativa do autor de
tratar questões relacionadas com o livre arbítrio, comportamento humano, ética,
moral, e a dualidade entre a fé e a dúvida, fez com que eu validasse e desse mérito
a estas lições que me foram ensinadas por um pai que não foi meu herói.
Caro leitor, talvez você não concorde
na plenitude com as teorias, ideias e pensamentos de Hellinger, talvez os
romances de Fiódor Dostoiévski não expliquem
nem acalmem suas revoltas e buscas, mas mesmo assim recomendo que leia, e
aprenda a incluir o que tem excluído em sua vida, e a aceitar e não concordar com
tudo e todos, principalmente com as pessoas que mais amas.
Para concluir, devo dizer que o meu pai me fez feminista, e agora
estou em evolução porque minhas tentativas enquanto pessoa pretendem significar
o homem além de suas escolhas.
Interessante!
ResponderExcluirQuerido leitor. Obrigada por se interessar pelos artigos do Blog Humanidade no Feminino, espero que possamos debater e refletir sobre assuntos que possam nos tornar mais humanos.
ExcluirMuito interessante ❤️
ResponderExcluirQuerido leitor. Obrigada por se interessar pelos artigos do Blog Humanidade no Feminino, espero que possamos debater e refletir sobre assuntos que possam nos tornar mais humanos.
ExcluirAmei,é muito interessante
ResponderExcluirQuerido leitor. Obrigada por se interessar pelos artigos do Blog Humanidade no Feminino, espero que possamos debater e refletir sobre assuntos que possam nos tornar mais humanos.
ExcluirMuito profundo tocou me apesar de que nunca tive um pai ao meu lado
ResponderExcluirQuerido leitor. Obrigada por partilhar seus sentimentos sobre sua imagem paterna. Talvez o facto de não o ter ao seu lado, não signifique que não possa adotar dele uma imagem inspiradora dele e inclui-lo em seu coração como parte de si.
ExcluirTe recomendo que leia sobre ordens do amor, deixei também um pequeno vídeo sobre o assunto no final do artigo.
Obrigada
Querido leitor. Obrigada por partilhar seus sentimentos sobre sua imagem paterna. Talvez o facto de não o ter ao seu lado, não signifique que não possa adotar dele uma imagem inspiradora, dele e inclui-lo em seu coração como parte de si.
ExcluirRecomendo que leia sobre ordens do amor, deixei também um pequeno vídeo sobre o assunto no final do artigo.
Muito obrigada
Amei a história. Muito emocionante e me fez parar e pensar no amor paterno e na imagem inspiradora que posso adoptar nele.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
Excluirinspiradora. gostei muito
ResponderExcluirQuerido leitor. Obrigada por se interessar pelos artigos do Blog Humanidade no Feminino, espero que possamos debater e refletir sobre assuntos que possam nos tornar mais humanos
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