QUANDO DESCOBRI QUE ÁFRICA É UM PAÍS…





Numa dessas viagens em busca de sonhos, me vi morando na Espanha… Talvez antes de lá chegar, este país não tenha sido um lugar que eu projetasse estar, mas os caminhos que fui percorrendo me levaram até lá.

Nem tudo era novidade para mim – mesmo não sendo amante de futebol, conhecia, de forma abstrata, o Real Madrid e o estádio Santiago de Bernabeu; por outro lado, a televisão, através dos desenhos animados, fez-me conhecer o famoso Dom Quixote de Miguel Cervantes.

Ao conhecer o mínimo – e por ter conquistado algumas amizades castelhanas – imaginava que a inserção neste novo ambiente seria tranquila. Sempre confiei no meu espírito de persona curiosa e carismática, daí que tenha  tendência de me interessar por coisas novas.

Devido a minha ínfima  bagagem cultural sobre a cidade que me concederia abrigo, cheguei a considerar que as pessoas com as quais me relacionaria também conheceriam um pouco de meu país, Moçambique; afinal, também temos ícones como  Samora Machel, a Mulher do Guinness book, conhecida por esposar dois presidentes de países diferentes (Graça Machel)  e o Mia Couto, um dos melhores escritores moçambicanos, conhecido internacionalmente.

As minhas idealizações sobre o contacto além do meu habitat se desfizeram quando minha colega espanhola me perguntou se eu era africana. Não tinha dúvida sobre isso e respondi que sim, no entanto, achei que se perguntasse de que país eu vinha, a minha resposta poderia ser mais especifica, já que África é um continente e alberga vários países.

De seguida, minha colega falou-me com entusiasmo que gostava muito de África, da selva. A minha deceção nesta conversa veio quando ela perguntou se eu vivia na selva e fazia muito safari. A pergunta deixou-me desolada – Como é que alguém pode pensar, em pleno século XIX, que África é um país e que vivemos na selva?

Perguntei-me: será que aqui na Europa não se assiste noticiário sobre África e/ou não se aprende História e Geografia do mundo?

Numa outra conversa, minha colega chinesa perguntou-me: É verdade que os africanos tem pénis grandes e são bons de cama? Ri e respondi que não sabia porque, para responder a fantasia sexual dela, eu, como africana moçambicana, teria que fazer um  intercâmbio sexual continental.

E talvez isto pareça um cliché para a minha colega boliviana que me perguntou se em África existiam aviões e, portanto, como eu havia chegado à Espanha; no entanto, para mim, a pergunta criou uma revolta interna,

Perguntei-me: Afinal, o que o mundo pensa de África ou de meu país? Será que a África do Sul é a única referência africana? Será que sempre terei que explicar o caminho para minha casa a partir da selva e do safari que nunca conheci e pratiquei?

Geralmente, temos tendência de contar experiências positivas sobre o que vivenciamos fora do país; no entanto, é preciso considerar que os que nos torna mais africanos e moçambicanos é a reafirmação da nossa história e cultura perante o mundo.  

Existem várias formas de conhecer lugares novos; nem sempre o dinheiro chegará para comprar uma passagem e ir conhecer o mundo, mas o livro tem a capacidade abstrata de fazer-nos chegar a partes mais inusitadas do planeta terra.

Talvez o mais importante nessas partidas e vindas é poder conhecer um pouco do outro, estabelecer conexões e cruzar histórias de vida e de povos – lembrando, porém, que cada lugar tem sua excentricidade e que as perguntas a serem feitas devem incitar à curiosidade de conhecer o outro.

Querido mundo, África é um continente!
Feliz dia de África a todos nós




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