QUANDO CONTEI QUE ESTAVA GRÁVIDA DE UM MENINO
Quando descobri que estava grávida, muitos sentimentos vieram à
tona; nos primeiros dias não consegui dormir, tentava imaginar o sexo do meu
bebé, a personalidade e rosto... Cheguei a escolher as características físicas
e psicológicas que ele deveria herdar de mim e do pai. Tenho uma listinha
secreta de qualidades e habilidades que ele deveria herdar de nós.
No fundo, sei que estas minhas idealizações são abstratas, porque
nenhuma delas será real. A criança será tal como foi destinado por Deus. Tenho
em mente que meu papel enquanto mãe limitar-se-á em educa-la e amá-la, afinal,
tal como diz Mia Couto, “Cada homem é uma raça “.
Na 13ª semana de gestação, foi-me revelado o sexo do bebé. Durante
o ultrassom, o médico disse – “Parabéns! É um menino.” Meu coração encheu-se de
alegria, no fundo não interessava o sexo, filho é filho, seja menina ou menino.
Saí do hospital feliz com a emoção estampada nos meus olhos – até
o soprar do vento criava-me sensações de choro. Ao chegar a casa, mal meti o pé
no quintal, minha tia perguntou-me: “Como foi? Será menina?” Senti que minha
tia tinha esperanças ou queria que meu bebé fosse menina. Respondi-lhe com
alegria: “Não tia, será menino e estou feliz com o sexo, eu só quero ser mãe.”
O rosto da minha tia murchou, e, com uma voz fria e trémula, disse:
“Meninos são filhos do mundo, quando crescem e se casam, esquecem suas origens,
sua família e mães; melhor ir planificando a segunda gravidez, para que tenhas
uma filha que possa cuidar de ti.”
Naquele momento, minha felicidade maternal desapareceu e fiquei
decepcionada por um futuro não experimentado. Ainda naquele instante dei-me
conta de que minha tia estava a dizer-me aquilo com base na sua experiência. Dos
seus 6 filhos, a minha prima Gina é a única que a visita com frequência, liga
para saber se precisa de algo, se vai precisar de água ou se ainda tem arroz na
dispensa.
Aquele flashback trouxe
juntamente muitas questões – Será que o facto da Gina ter sido ensinada a
cuidar dos irmãos influenciou nos cuidados e na ligação que ela teve/tem com a
sua mãe? Minha tia sempre dizia que a Gina tinha que saber cozinhar, engomar,
lavar e ainda deveria cuidar dos irmãos. Meu primo Zé mal sabe fritar um ovo e
varrer a casa…
Será que o facto de a tia não ter ensinado aos meus primos a cuidar
uns dos outros – a cozinhar, passar, tal como ensinou e exigiu a Gina –
influenciou a atitude de seus filhos homens desprendidos e egoístas? Se bem que
cuidar dos pais não deveria ser obrigação, os filhos devem fazê-lo por amor,
zelo e dádiva.
Estou a buscar respostas destas perguntas, não gostaria de ser uma
mãe largada pelo meu filho, porém, com certeza, não quero que ele se prenda a
mim e não faça sua vida.
Na semana passada li o livro da Chimamanda Adiche com o título “Como
Educar Crianças Feministas”; o livro traz conselhos simples e claros de como oferecer
uma educação igualitária a todas crianças e sugere que deve-se iniciar pela
justa distribuição de tarefas entre pais e mães. É uma leitura simples e breve
para quem deseja preparar seus filhos para melhor lidarem com os desafios da
sociedade moderna.
Gostei tanto de
ler este livro e gostaria de partilhar com a escritora que na minha mente
intitulei o livro “Como Educar Crianças Humanizadas”;
acho que a criação igualitária, não rotulada, separatista e divisória entre
meninos e meninas é uma questão humana tanto quanto feminista.
Meu colega Rogério
emprestou-me dois livros cujos títulos são “Crianças Francesas Não Fazem Manha:
Os segredos parisienses para educar os filhos” de Pamela Druckerman e “Quem
Ama Educa” de Içami Tiba. Este
último ainda não li, mas ao folhear vi a seguinte passagem que me deixou curiosa
e emocionada:
Felicidade
Os pais podem dar alegria e satisfação para um filho,
mas não há como lhe dar felicidade.
Os pais podem aliviar sofrimentos enchendo-o de
presentes, mas não há como lhe comprar felicidade.
Os pais podem ser muito bem-sucedidos e felizes, mas
não há como lhe emprestar felicidade.
Mas os pais
podem aos filhos dar muito amor, carinho, respeito, ensinar tolerância,
solidariedade e cidadania, exigir reciprocidade, disciplina e religiosidade,
reforçar a ética e a preservação da Terra.
Pois é de tudo isso que se compõe a autoestima. É sobre a autoestima que repousa a alma, e é
nesta paz que reside a felicidade.
IÇAMI TIBA.
Estou ciente de que não existem manuais e fórmulas para
educar um filho – é uma experiência diária e desafiante. Estou apenas a tentar
descobrir os caminhos para melhor exercer a maternidade. Neste interminável
processo, estou convicta de que cometerei erros, mas nem tudo irá mal. Ainda
não tenho todas as respostas, busco, apenas, construir meu próprio modelo
familiar para educar o meu menino.
Ham, já ia esquecendo, meu colega falou-me que meninos
e meninas têm um lado masculino e feminino, só precisamos saber estimular de
forma equilibrada. Nem ele sabe como fazer isto…
Veja
abaixo links dos livros citados. Veja também os vídeos, são muito
interessantes.
https://www.google.com/search?source=hp&ei=ZlrBXpvjHsG4aeP3m8gP&q=quem+ama+educa+pdf&oq=quem+ama+educa+&gs_lcp=CgZwc3ktYWIQARgAMgIIADICCAAyAggAMgIIADICCAAyAggAMgIIADICCAAyAggAMgIIADoFCAAQgwFQtQpYnCZg0DRoAHAAeACAAbIDiAG9JpIBCDItNC4xMC4xmAEAoAEBqgEHZ3dzLXdpeg&sclient=psy-ab
https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13295.pdf
http://www.justicadesaia.com.br/wp-content/uploads/2017/05/Para-Educar-Crian%C3%A7as-Feministas.pdf
Querida leitora. muito obrigada por cometar aqui no blog humanidade. A sociedade sempre nos cobrará o que acha que deveria ser ou feito, não é que isso seja certo ou errado, mas acredito que em primeiro lugar deveríamos enquanto sociedade respeitarmos o que de forma individual escolhemos e o que queremos para nós.
ResponderExcluirNa educação de um filho não há garantias, conforme diz o Leandro Karnal, e nem o sexo irá garantir se a criatura que levamos no nosso ventre dará continuidade ao nome ou as ações começadas pelos pais. Vale a pena fazermos o nosso papel como pais, tendo em mente que acertaremos e erraremos. Mas também não desistiremos de ensina-los a cultivar valores que possam ser transformadores na sociedade.
Um forte abraço… Acho que tenho que falar também do desafio de ser mãe de menina (risos)